Com 300 noites sem nuvens por ano no deserto do Atacama, o país terá em 2025 70% dos grandes telescópios — e atrai big techs como Google e Amazon.
O deserto do Atacama é a região não polar mais seca do planeta Terra. Durante 500 anos, não houve um único registro de chuva significativa (até a ocorrência de duas tempestades, em 2015 e 2017). Essa terra tão inóspita está se revelando um presente da natureza para o Chile. O céu cristalino, livre de nuvens 90% do ano, atraiu para uma área de apenas 2 mil quilômetros quadrados (30% maior que a cidade de São Paulo) 40% dos telescópios ópticos e infravermelhos de grande porte do mundo. A participação chegará a 70% em 2025, com tendência de aumentar ainda mais no futuro. A observação espacial tornou-se estratégica para os gigantes mundiais da tecnologia e para o Chilecon Valley — como é chamada a cena das startups chilenas.
O Chile espera aproveitar a nova era de observação e exploração espacial melhor do que conseguiu na anterior, durante a Guerra Fria. Dois estudos acadêmicos recentes fazem um balanço do que o país ganhou e perdeu desde 1969, ano de instalação dos observatórios La Silla (europeu, do ESO) e Las Campanas (americano, da Carnegie Institution). O resultado é controverso. O país criou privilégios para a observação espacial, como obras de infraestrutura e cessão do terreno, além da isenção de impostos e de estudos de impacto ambiental. Apenas em 1990 (após a redemocratização) o governo chileno impôs como regra geral uma contrapartida: 10% do tempo de observação reservado a pesquisadores chilenos. A regra ajudou a pesquisa no país. Segundo a Sociedade Chilena de Astronomia, desde 2000 o número de cursos ligados a astronomia nas universidades no Chile aumentou de 2 para 17, e a quantidade de pesquisadores dessa área cresceu de 30 para mais de 900. O assunto representa a maioria (12%) da produção de artigos científicos do país. Cientistas chilenos participaram de descobertas importantes, como a primeira observação de um exoplaneta (2004) e do planeta mais parecido com a Terra (2017), além da primeira fotografia de um buraco negro (2019).
Fonte: Época Negócios